O debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), transmitido pela Record nesta noite, marcou 9 pontos de média na Grande São Paulo, segundo dados preliminares do Ibope _sujeitos a confirmação.
O primeiro bloco do debate entre os presidenciáveis na TV Record foi quente e com troca de acusações de ambos os lados, mas as respostas referentes a questões concretas para o país deixaram a desejar.
A candidata Dilma Rousseff (PT) foi a primeira a perguntar e questionou José Serra (PSDB) sobre o que ele pretende fazer com o Porgrama de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste. O tucano comentou que o PAC é “uma lista de obras” sem entrosamento e com baixo nível de execução. “É muito mais saliva e propaganda”, afirmou. Dilma revidou o ataque, dizendo que o adversário estava “enrolando” e que as obras foram todas tiradas do papel.
Em sua vez de perguntar, Serra quis saber quais eram as propostas da petista para a expansão da banda larga no Brasil. Dilma, no entanto, começou seu tempo voltando ao assunto das obras do PAC no Nordeste e depois afirmou que o governo do PT levou a banda larga às escolas de ensino médio e fundamental.
Em sua réplica, o tucano criticou o projeto da Casa Civil para a área, citando a ex-chefe da pasta Erenice Guerra, braço direito de Dilma, que prestou depoimento nesta segunda-feira à Polícia Federal “por seus malfeitos”. Na tréplica, Dilma trouxe à tona o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, afirmando que os tucanos o esconderam, em seguida voltou a falar das obras no Nordeste e encerrou seu tempo falando de banda larga.
Na pergunta de Dilma sobre a manutenção do Prouni, a candidata voltou a dizer que o DEM, aliado de Serra, tentou torná-lo ilegal. O tucano negou a tentativa e disse que irá manter o benefício. Em seguida, considerou o apelido Paulo Preto preconceituoso e explicou que havia dito não conhecê-lo anteriormente porque não sabia a quem se referia o termo. “Ele foi apenas citado na Operação Castelo de Areia e sequer foi chamado para depor”, rebateu.
Serra fez referência também a José Dirceu, que chefiou a Casa Civil e estava envolvido no caso mensalão. “A Dilma foi testemunha de defesa do Dirceu, que foi apontado pelo STF como chefe de quadrilha. Ela foi lá e fez uma fala carinhosa e empolgante da moralidade dele”, criticou. “E ela fala que todo mundo tem problemas na vida pública. Não tem não, eu não tenho”.
Quando perguntada sobre propostas para a saúde, a petista voltou ao assunto Paulo Preto. “Ele é braço direito, esquerdo e se duvidar a cabeça do candidato também. Ele quando entrou na Dersa modificou os termos no contrato de obras e em uma deles três vigas caíram por problemas no material utilizado”.
No segundo bloco do debate da Record, José Serra continuou aproveitando todas as oportunidades para colar em Dilma Rousseff a imagem de “mentirosa”. Afirmativo sem ser hostil, o tucano esteve bem mais seguro que nos debates anteriores.
A primeira pergunta de Serra reafirmou que o candidato, pela primeira vez, procurou manter-se na ofensiva. “Dilma tem dito mentirosamente que eu quero privatizar a Petrobrás”, começou. Dilma continuou batendo na tecla da privatização. Insistiu na ideia de mudar o nome da estatal surgida durante o governo Fernando Henrique Cardoso. A Petrobrás ocupou mais da metade do bloco.
Um pouco menos confusa que no primeiro bloco, Dilma o desafiou a comparar a quantidade de empregos criados no governo Lula com os do governo FHC. Serra contornou o assunto e afirmou que o ex-presidente Fernando Collor de Mello controla parte da estatal.
O meio ambiente apareceu numa pergunta de Dilma Rousseff, que prometeu diminuir em 80% o desmatamento da Amazônia e em 40% o do cerrado. O tucano rebateu com a promessa do desmatamento zero, e aproveitou para citar várias vezes o nome de Marina Silva e do Partido Verde. “A nossa Lei de Mudanças Climáticas é a melhor da América do Sul e a terceira melhor do mundo”, garantiu Serra. Dilma replicou: “Quero insistir na questão nacional, porque quando o assunto é Brasil o desafio é muito maior”.
O terceiro e último bloco foi o mais morno do debate entre os presidenciáveis na TV Record, mas não faltaram as trocas de farpas. Cada um dos candidatos fez somente uma pergunta ao outro e, em seguida, apresentou suas considerações finais. Os temas abordados foram a reforma agrária e a geração de empregos. No fim, Dilma Rousseff (PT) falou do nível do debate e José Serra (PSDB) citou Minas Gerais.
A pergunta do tucano referiu-se ao Movimento dos Sem Terra (MST), que considera “um movimento político que usa a reforma agrária como pretexto”. Ele ainda afirmou que o PT dá dinheiro ao movimento e que Dilma “ora critica as invasões, ora veste o boné” do MST. A petista começou a resposta em tom repreensivo. “O debate pode ser assertivo, mas acredito que é preciso um certo nível, um pouco mais de humildade e elegância. Não se ganha nem se governa com desdém”.
Segundo Dilma, o governo Lula fez o maior número de assentamos dos últimos anos e nesse período houve menos invasões. “Não tratamos nenhum movimento social com cassetete nem agressão”, disparou. Serra afirmou que a adversária adota “atitudes ambivalentes” ao tratar do MST e recorreu a comentários do ex-candidato Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) para dizer que a afirmação sobre o governo Lula estava incorreta. “Esse governo não fez mais assentamentos nem teve menos invasão, quem disse foi o Plínio, que é especialista em reforma agrária”.
A petista revidou: “Em termo de quebrar proposta o senhor bate recorde, disse que não seria candidato e foi”. Dilma ainda garantiu que não concorda com tudo o que faz o MST. “O que não está certo é achar que o MST é questão de polícia. É questão de política social”.
Na pergunta sobre geração de emprego, Dilma afirmou que o governo Lula criou três vezes mais vagas que o mandato do PSDB. Serra colocou em dúvida a afirmação e acrescentou que o país atualmente tem “a mais reduzida taxa de investimento governamental”.
Encerramento – Nas considerações finais, Dilma disse lamentar “que algumas vezes o debate tenha perdido o nível de qualificação” que os eleitores têm direito e citou separadamente as regiões do Brasil. “Eu fui aos quatro cantos do país e vi o Centro-Oeste buscando novas formas de crescer, o Sul e o Sudeste voltando a ter confiança em seu potencial, o Nordeste crescendo a taxas chinesas”, enumerou.
Na sua vez, Serra lembrou que, no dia 1º de janeiro, Lula não será mais presidente e defendeu o Brasil sem “a intolerância dos punhos fechados, com a fraternidade entre os brasileiros”. Afirmando ser a favor da união de todas as regiões e contra o antagonismo, o tucano deu ênfase ao estado que tem sido sua aposta no segundo turno: Minas Gerais. “Quero um Brasil unido, de Minas Gerais, do Aécio [Neves], do Anastasia e do Itamar [Franco], para cima e de Minas Gerais para baixo.”

